Sobre Esquadrão Suicida – Sem Spoilers

Então eu fui ver Esquadrão Suicida ontem e…. Bom, eu gostei, mas com ressalvas. Muitas ressalvas.

Assim como a maioria das pessoas, eu tava muito empolgada por esse filme quando os trailers começaram a aparecer, mesmo nunca tendo lido nenhuma HQ do grupo.
Aquela trilha sonora excitante com cenas de ação o tempo todo. Aquilo foi muito foda. Eu mal podia ver a hora de assistir aquilo num cinema.

O marketing do filme foi inegavelmente satisfatório, empolgou até quem não gosta de filme de herói (vulgo minha mãe).

Mas quando o filme saiu aquela empolgação inicial foi sendo tomada pela chuva de crítica negativa.

“E daí? Quem liga pra opinião dos críticos?” Muita gente, meus caros. Eu incluída.

Não vou pra cinema pra analisar filme nenhum, longe disso. O cinema tá caro demais pra eu sair caçando defeito em filme sem propósito algum. Da mesma forma, fui curtir Esquadrão Suicida.

O elenco é ótimo, os trailers são maravilhosos, a história tem tudo pra ser boa. Como isso pode dar um filme ruim, né?

Mas aí saiu Batman vs Superman e ninguém gostou (claro que tô generalizando, já que meu namorado, por exemplo, adorou). A DC desanimou, e não adianta quantas vezes o estúdio negar, eles modificaram o filme pra ficar mais Marvel-ish. E foi aí que começou o problema.

O  primeiro trailer é ação o tempo todo, te deixa com vontade de ver o filme, mas é visível que aquilo era como o filme deveria ser antes das críticas negativas de Batman vs Superman, porque depois… O filme que vimos no cinema foi outro completamente diferente, tanto que muitas cenas que estão nos trailers nem sequer aparecem no filme. Algumas cenas ficaram completamente sem contexto e eu olhava pro lado buscando caras confusas como a minha pra não me sentir tão sozinha no meio daquele bolo de personagem aparecendo e nada desenvolvendo.

Tá, mas como é possível gostar de um filme com tanto problema? Chegaremos nisso mais a diante.

Vou dividir esse post em partes, porque tenho umas coisinhas pra falar desse e não sei se vou conseguir desenvolver em uma só linha de pensamento.

Apresentação de personagem

Viola “diva de nós todos” Davis é Annalise Keating, ops, Amanda Waller  e é ela que nos apresenta os membros do Esquadrão;  e é aí que somos apresentados, de uma forma muito atropelada, a alguns deles e o que os levaram à prisão.

Aparece o personagem, joga na tela informações sobre ele – informações essas que esta que vos fala não conseguiu ler porque aparece trezentas e cinquenta e duas coisas sobre eles e meu olho não foi sobrehumano o suficiente pra conseguir ler tudo, confesso. Daí ok, como vocês querem que eu simpatize com um personagem que você apenas me diz nome, altura, que arma usa e sei lá mais o que se eu nem tive tempo de vê-los praticamente?

Os que mais têm tempo de tela nesse comecinho é a nossa maravilhosa Harley Quinn e o bondoso? Pistoleiro. Os outros, bom, a gente os conhece, sim, mas é tudo meio rápido demais. Quem era aquele ali mesmo??

A Magia (Enchantress)

Primeiro de tudo, já vou avisando de antemão, eu não gosto da Cara Delevigne e muito por isso já não vi com bons olhos essa Magia… Logo, achei que ia odiar a personagem e… Não.

A atuação da Cara me incomodou um pouco mesmo, afinal é uma modelo brincando de ser atriz. Lembram da Gisele Bündchen em Táxi? Ah, gente, foi risível. Portanto eu não podia esperar uma grande performance da menina Cara. Fui completamente sem expectativa vê-la e não me arrependi disso, porque não fui surpreendida, mas também não me decepcionei. Cara entregou uma performance ok, não foi exagerada DEMAIS – embora às vezes tenha me feito encolher um pouco na cadeira de vergonha alheia – e também não foi sem expressão à la Kristen Stewart em Crepúsculo (never forget). A caracterização da personagem foi outro acerto.

Mas eu queria ter visto mais dela. Sei que nos trailers têm umas cenas que ela aparece, conversa, e mostra também muito da relação da Dra. Moone com o Flag, mas todas as cenas se perderam.

Só acho que poderia ser outra atriz ali, tenho certeza que alguma outra pessoa teria entregado melhor a personagem. Confesso que não entendi o que fizeram escolher a Cara pro papel.

O Pistoleiro (Deadshot)

Amo o Will Smith, e pra mim é impossível vê-lo como vilão. Acontece que tô começando a achar que é porque ele simplesmente não consegue mesmo.

Pistoleiro, pelo o que eu entendi, é um cara mau. Mau mesmo. Malvado. Maldoso. Mau. Mas então quem era aquele que eu vi no filme?

Meu problema com esse personagem não tem nada a ver com o tio Will e sim com a humanização que deram a Floyd Lawton.

É um filme de vilões e eu quero gostar dos vilões por serem vilões, não porque “ah, mas são humanos, então goste deles porque eles também têm coração”. Não, DC, eu quero gostar dos vilões e torcer por eles mesmo eles sendo vilões, caramba.

Toda aquela história com a filha etc… Ah, gente, dormi. Não quero gostar de você porque olha que lindo o que ele faz com a filha, olha que relação fofa. Por favor, né.

O Coringa (Joker)

Hum…

É…

Então

Acredito que não deu tempo de conhecer esse novo Joker, né…

Não sei quem era aquele cafetão-barra-menino-mimado que vimos no cinema, mas aquele não era o Joker que eu aprendi a amar.

Tem muita coisa pra falar do Joker, mas a maioria não é culpa do Jared Leto.

Ah, tenho que acrescentar, não gosto do Jared.

Ele é um cantor ótimo e um ator incrível, mas não consigo gostar dele e tive birra com ele fazendo o Coringa, não nego.

Nunca fui ver nenhum filme dele com esse pensamento e gostei dele em todos. Inclusive ele está em dois dos meus filmes favoritos da vida – Mr. Nobody e Requiem For a Dream -. Por que não ser mente aberta com o novo Coringa? Afinal Heath Ledger era um atorzinho de filme de romance e entregou o Coringa como ninguém (não estou comparando Coringas, porque, por incrível que pareça, eu não tenho apego algum ao Coringa do Heath, apesar de amá-lo muito, também consigo gostar do do Jack Nicholson, por exemplo).

Mas eu acho que o problema foi: nem o diretor nem o Jared entenderam o que, pra mim, é o melhor vilão de histórias de quadrinhos ever.

Esse Coringa é apaixonado pela Harley Quinn? Porque pra mim foi isso que ele passou, paixão, amor por ela. Desde quando o Coringa se apaixona por alguém, gente? Desde quando o Coringa sabe o que é amor? Mas falaremos sobre essa relação daqui a pouco.

Primeiro, cadê o contexto das cenas do Coringa? Gente, me perdi completamente, sério.

Flashback: Harley Quinn e Coringa numa boate, chitchat pra cá e chitchat pra lá com um cara meio who pra mostrar que nossa tenha medo desse Coringa aqui. Mas como? Não vi maldade alguma ali.

Flashback: Coringa chama um cara e chama ele pra conhecer os brinquedos dele, opa, não, não tem isso no filme, onde que eu vi mesmo? Ah, sim, nos trailers. Cadê essa cena no filme? Que brinquedos são esses? A cena foi trocada por um simples “seremos bons amigos” outra vez sem contexto.

Flashback: “I’m just gonna hurt you. Really, really bad”. Nossa, que Coringa maligno… Mas o que o levou a fazer aquilo? O que aconteceu antes? Me senti a própria Zileide Silva.

Ficou complicado, pra mim, entender esse Coringa, até porque ele é completamente diferente de todos que já vimos até hoje no cinema e muito por isso deveria ter sido melhor apresentado. Acredito que a culpa foi, na verdade, do roteiro e do diretor que não entendeu como o Jared deveria entregar a cara nova do vilão. Não queria fazer isso, mas a comparação é inevitável: bom, por enquanto, ainda continuamos órfãos do Heath Ledger.

A Katana

A personagem que eu mais fiquei triste por ter sido pouco apresentada. Me apaixonei por ela, mas não sei por quê.

Afinal, pra se apaixonar por alguém você precisa conhecê-la, não é? Mas não me deixaram conhecê-la. Ela não foi apresentada no começo e mais pro meio ela simplesmente apareceu e eu não entendi muito bem ela ali.

Quem é Katana? O que ela faz? Ela é vilã? Porque apareceu ali tão do nada e ficou tão avulsa que eu não sei qual o propósito dela até agora. Até porque muita cena de relevância envolvendo a personagem foi cortada, sabe-se lá o porquê.

Me senti meio entristecida por em nenhum momento explicar ela ali, o que ela fez pra estar ali e muito menos sobre sua espada que aprisiona as almas que por ela são retiradas; que aliás me deixou bastante intrigada.

Eu não deveria precisar conhecer a personagem das HQs pra ir ao cinema, mas foi isso que pareceu, e isso é bastante complicado em um filme, principalmente porque este deve funcionar de forma independente.

Mas parece uma personagem incrível e espero um dia conhecê-la de fato e não ter que correr pro Google pra entender ela num filme que deveria ter sido auto explicativo.

A relação de Arlequina (Harley Quinn) e Coringa. 

Ok, chegamos a parte mais problemática do filme. A relação entre esses dois malucos.

O que o filme nos entrega não é a relação que eu conheço, pra começo de conversa.

Em algumas entrevistas o diretor já declarou que essa é uma história de amor. Oi?

De novo, o diretor não entendeu os personagens.

O Coringa não é, nem nunca foi, nem nunca será, apaixonado pela Arlequina. Não no sentido “amor”. O Coringa é incapaz de amar. Ela é uma espécie de experimento de loucura dele, apenas. Ele quer vê-la sempre tão surtada quanto ele próprio, ou, quem sabe, até pior.

Um amigo meu comentou comigo que leu uma HQ do Esquadrão em que o Coringa vai ao quartel general do Esquadrão e quase mata todo mundo só para raptar a Arlequina, porque ele ficou sabendo que ela estava melhorando da insanidade, o que não o deixou feliz, obviamente.

Ele a leva pra um lugar horrível e começa a torturar ela mental e psicologicamente, além de agredi-la fisicamente inúmeras vezes até ela enlouquecer e voltar a ser quem ela era, pra ele. Mas que linda história de amor!

A Harley é a prova física daquela lição que o Coringa quis dar no Batman em “A Piada Mortal” e no filme do Nolan (never forget), Cavaleiro das Trevas: todo mundo pode enlouquecer ao nível dele, só precisam de um empurrãozinho.

Sabendo disso, é impossível entender como o Coringa se mostra afetuoso com a Harley durante o filme. Isso simplesmente não existe. O diretor não compreendeu isso.

Portanto o problema maior aqui foi: humanizar o Pistoleiro até vai, mas o Coringa????

Os outros

Margot entregou a personagem como ninguém, ela sim entendeu a Harley Quinn. Quanto aos outros, Capitão Bumerangue, Crocodilo e Diablo, se você não leu as HQs dificilmente irá entendê-los ali.

É nos apresentado o básico sobre eles: uma ficha técnica básica e seus feitos, só. Não sei nada sobre eles. Até a cena do bar eu não tava nem aí pro Diablo – que acaba virando uma peça relativamente importante na trama.

Tem uma cena até engraçadinha do Capitão Bumerangue com um unicórnio de pelúcia cor-de-rosa. Deram tanto foco àquele unicórnio que eu achei que ia me ser explicado e não… O que significa aquele unicórnio pra ele? Foi só pra deixar engraçadinho mesmo? Pra gente olhar aquele homem, assassino, badass e vê-lo como um crianção que guarda seu lado humano em um unicórnio de pelúcia? Não, aquilo, por mais que fosse bobagem, deveria ter sido explicado.

E o Crocodilo, bom, whatever, sinceramente.

O humor

Ah, não, DC!

Tudo bem, muita gente sentiu falta de um alívio cômico em Batman vs Superman e blá blá blá, mas parem de tentar agradar os Marveletes, meus amores, vocês não são eles.

Tudo que eu mais gosto dos filmes da DC é justamente a atmosfera mais densa. Essa é um filme de herói sim, mas não é um filme pra criança, ou um filme pra nerdões que passam o dia lendo quadrinhos. DC devia entregar um filme sério, focado, bem desenvolvido, não um filme grassadão à la Marvel fazendo piadinhas ha-ha entendi a referência. Não, DC!

Eu adoro os filmes da Marvel e o humor funciona muito bem, pelo menos pra mimGuardiões foi um dos meus filmes de herói favoritos do ano passado e eu   adorei Deadpool. Mas isso é coisa deles, não da DC.

O primeiro trailer de Esquadrão é claramente esse tipo de filme, mais sério, tenso, mas depois do fracasso que foi BvS eles modificaram muita coisa. A maior reclamação nesse caso era a falta de alívio cômico, já que o filme tava sombrio demais. Vocês já viram o Batman feliz alguma vez? Yay, perdi meus pais por culpa minha, moro com meu mordomo e escondo um segredo obscuro, what a happy life! O Batman é um personagem sombrio, triste… Superman só se fode também, não tem como ser o cara mais colorido do mundo. É óbvio que o filme ia ser sombrio. Se você foi ao cinema procurando humor, seria melhor esperar o próximo Avengers.

O único humor no filme do Esquadrão que funciona eficazmente em todas as vezes é o da Arlequina, mas o motivo é claro: é da personagem. Ela é louca e faz loucuras. O jeito dela é surtado e ela tem quase zero de noção do mundo a volta. Ela é doida e é isso que a deixa engraçada. Mas é dela e ela tem que ser assim, os outros, não.Todas as outras tentativas de fazer rir, pra mim, falharam.

Fui a uma sessão às 10 da noite (horário único que tinha o filme legendado) e o cinema estava lotado, e mesmo assim em uma determinada cena envolvendo o Capitão Bumerangue e a Katana, onde provavelmente o objetivo era aliviar a tensão da cena, houve o maior silêncio na sala. Ninguém riu, não funcionou.

Apesar de tudo isso, eu ainda recomendo o filme. Não o odiei, muito pelo contrário, me deixou presa do começo ao fim. Não queria saber de mais nada além do quanto aquilo tava divertido.

O motivo é que fui ao cinema sem muita expectativa, já que vi um monte de crítica ruim antes de ir ao cinema. Minha empolgação inicial já tinha se dissipado e eu fui exclusivamente por curiosidade, portanto o filme funcionou pra mim.

Não é nem de longe o melhor filme do ano, nem do mês, talvez nem da semana, mas eu gostei, e creio que vale a pena o ingresso, embora não seja um filme imperdível. É o típico filme passa-tempo de um sábado à noite, por exemplo, e merece ser visto como tal, sem muita expectativa.

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